Sempre Palestina
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
domingo, 3 de agosto de 2014
Palestina: a História de uma Terra
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Tragédia sobre a Faixa de Gaza e os acordos de Oslo
(havia publicado em um antigo blog em dezembro de 2008, quando o governo sionista empreendeu mais uma temporada genocida sobre o povo palestino)
Não
existe outro nome para o que Israel vem praticando na Faixa de Gaza nos últimos
dias, senão o genocídio.
A
tal comunidade internacional, totalmente omissa quando não cúmplice, limita-se
a condenar os excessos e a desproporção dos ataques israelenses, mas,
sobretudo, afirmar que a culpa de tudo o que está acontecendo é do Hamas, que
violou o cessar fogo vigente desde setembro, atirando foguetes a partir da
Faixa de Gaza. Até o momento os tais foguetes de fabricação caseira fizeram quatro
vítimas israelenses. Israel, por outro lado, afirma que os ataques que já
vitimaram quase quatrocentas pessoas são apenas o início de uma ofensiva que
irá se intensificar nos próximos dias.
Culpar
a administração palestina pelo massacre do seu povo é tão abominável quanto
culpar os judeus pelo holocausto, mas, de qualquer forma, é necessário fazer
algumas reflexões sobre a prática dos dois principais grupos rivais que
polarizam a disputa pelo poder entre os palestinos da Faixa de Gaza e da
Cisjordânia: o Hamas e o Fatah.
O
Fatah foi fundado em 1964 por Yasser Arafat juntamente com a OLP – Organização
para Libertação da Palestina. Funcionou como espécie de partido político no
interior da OLP, assim como várias outras organizações. O Fatah, até o ano de
2006 foi o grupo majoritário tanto na OLP quanto na ANP (Autoridade Nacional
Palestina), criada após os Acordos de Oslo. O Fatah durante muitos anos
defendeu o uso da força e mesmo de práticas terroristas na luta contra Israel,
pela desocupação da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, métodos estes que foram
posteriormente abandonados. Com a morte de Arafat, em 2004, o Fatah ficou
bastante enfraquecido, sendo que em 2006 perdeu as eleições parlamentares para
o Hamas, mas ainda mantém a presidência da ANP, através de Mahmoud Abbas. O
Fatah mantém certo trânsito entre governos ocidentais, pois, atualmente, é
considerado um grupo “moderado”.
O
Hamas foi fundado em 1987. Teve como um dos fundadores e principal líder espiritual
Ahmed Yassin, tetraplégico desde os 14 anos e assassinado por helicópteros
israelenses quando saía de uma mesquita, em 2004. O Hamas prega a resistência
contra Israel através de todos os meios. Seu principal meio de ataque é o
lançamento dos mísseis Qassan sobre Israel. Na verdade são foguetes de
fabricação caseira de pouco alcance e nenhuma precisão. O Hamas venceu as
eleições legislativas em 2004, possuindo atualmente maioria no parlamento
palestino. É considerado organização terrorista, pelos EUA, União Européia e
Israel.
Sem
dúvida, as duas organizações sofrem sérios problemas. O Hamas, por se tratar de
uma organização política e militar de caráter religioso e que adota práticas
extremamente questionáveis. O Fatah há muitos anos sofre sérias denúncias de
corrupção, além de ter firmado acordos com Israel, como os Acordos de Oslo, que
tornou muito mais vulnerável a capacidade de resistência palestina. Os dois
Acordos de Oslo, de 1993 e 1995, intermediados por Clinton representaram uma
vitória de Israel e um grande retrocesso na luta por um Estado Palestino.
Até
os Acordos de Oslo, havia um consenso internacional (com exceção dos Estados
Unidos) no que diz respeito à desocupação da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Aquilo que até então era inquestionável para o resto do mundo, graças a
liderança palestina se tornou questionável, pois, no segundo Acordo de Oslo,
consta que as duas partes não renunciam aos seus direitos, reivindicações e
posições. Ou seja, os territórios ocupados de forma violenta e ilegal por
Israel, desde 1967, tornaram-se a partir do Acordo “territórios em disputa”. Os
Acordos são recheados de absurdos em favor de Israel.
Norman
Finkelstein[1]
cita alguns pontos do Acordo Oslo II, onde o desequilíbrio é flagrante. Ante a
clareza e o absurdo dos termos, vale reproduzir o que escreve o autor sobre a
questão da água, das indenizações, segurança, soberania e sobre a terra:
[água]: Na realidade,
Israel reivindica direito legal sobre a maior parte da água da Cisjordânia, com
base num “uso histórico”. Ou seja, depois de roubar a água palestina durante
quase três décadas, os israelenses proclamam agora que ela é sua (285).
[indenizações]: “A
liderança da OLP assinou com Israel um acordo que na realidade afirma que os
israelenses não tem qualquer responsabilidade por todos os crimes que
cometeram” (286).
Soberania: Oslo II
refere-se apenas a um “reposicionamento” israelense na Cisjordânia, e não uma
retirada. Ficam excluídos da jurisdição do Conselho Palestino “Jerusalém, os
assentamentos, posições militares específicas, os refugiados palestinos, as
fronteiras, as relações exteriores e os israelenses”. Israel mantém plena
“jurisdição penal (...) sobre delitos cometidos” em qualquer parte da
Cisjordânia por Israelenses ou contra Israel ou um cidadão israelense. Quanto
às questões internas, o Conselho não pode efetivamente “emendar ou revogar leis
ou ordens militares em vigor” sem o consentimento de Israel. Existe até uma
determinação sobre a linguagem usada nos selos postais, que “deverão incluir
apenas a expressão “Conselho Palestino” ou Autoridade Palestina. Numa questão
correlata, o Conselho Nacional Palestino deve aprovar formalmente as
necessárias modificações a respeito da Convenção Palestina. Nenhuma exigência
comparável é feita a Israel, no sentido de que renuncia a sua antiga
reivindicação sobre a Cisjordânia – e muito mais que ela (286-287).
Segurança: Israel
mantém a “responsabilidade pela segurança externa, assim como a
responsabilidade global dos israelenses”. Em nome da segurança, Israel é assim
autorizado a dar perseguição a qualquer palestino em qualquer lugar. Embora
tenha a obrigação de proteger colonos e colônias israelenses que são ilegais
diante do direito internacional, a polícia palestina não pode – em hipótese
alguma – deter ou manter sob custódia ou em prisão, qualquer israelense (287).
Terra: A primeira fase do reposicionamento de Israel deixa os
palestinos com jurisdição territorial sobre apenas 30 por cento da Cisjordânia.
[...] Além disso as áreas palestinas não são contiguas (287-288).
É
óbvio que os Acordos não agradaram a grande maioria do povo palestino[2]. O
descontentamento também serviu de combustível para alimentar as disputas pelo
poder no âmbito da ANP e, pior de tudo, enfraqueceu sobremaneira a resistência
palestina.
A ausência de direção,
principalmente após a morte de Arafat, abriu caminho para o Hamas que, por suas
características políticas, militares e religiosas é incapaz de organizar o povo
palestino e dialogar com outros movimentos de resistência no plano
internacional. O terrorismo, embora muitas vezes movido pelo desespero, é
abominável, pois, além de vitimar na maioria das vezes inocentes, é totalmente
inócuo sob o ponto de vista da organização das massas. Normalmente leva a
desorganização ou a falsa esperança do aparecimento de algum redentor que
levará a salvação da classe oprimida.
Desta forma, o povo palestino
encontra-se abandonado e, especialmente na Faixa de Gaza, mergulhado em uma das
maiores tragédias humanitárias de nossa época. Alvejados por armas altamente
destrutivas, de um dos exércitos mais bem equipados do mundo e diante da
omissão ou cumplicidade da maioria das governos do mundo, resta ao povo
palestino chorar seus mortos entre os escombros.
Luiz
Gustavo Assad Rupp
[1] FINKELSTEIN,
Norman. Imagem e realidade do conflito
Israel-Palestina. Trad. Clóvis de Marques. São Paulo: Record, 2005. pp.
283-288.
[2]
Uma boa crítica sobre os Acordos de Oslo foi formulada pelo autor palestino
Edwuard Said (Peace and Its Discontents),
sem tradução para o português. O autor, falecido em 2003, militou na OLP até
romper com Arafat, viveu desde a década de 1960 nos EUA, onde lecionou em
várias universidades.
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